Fiz algo diferente para a postagem de hoje, montei um vídeo. Este vídeo é uma tentativa de passar com maior fidelidade as minhas intenções como artista Eu acredito que arte é isso, ela não se limita, ela inclui todo o contexto e situação do momento em que ela é criada e em que ela é observada, e por isso se abre espaço para infinitas interpretações e releituras. Editei este vídeo que contém o que escrevi junto com o som que me inspirou a escrevê-lo e um pouco da aura do momento em tudo foi criado. Acho que o vídeo irá guiar melhor o leitor, mas caso prefiram postarei o texto logo abaixo. Espero que gostem!
Por
lá ficou
Era dia das mães e ele tinha
saído na noite anterior. Acordou à uma da tarde, atrasado para o almoço em
família. Levantou-se rapidamente da cama, tomou um banho, jogou um perfume no
corpo, vestiu uma roupa apropriada e saiu de casa às pressas.
Ainda estava decidindo
o que levaria de presente para sua mãe e se levaria também alguma lembrança
para as outras mães presentes, conforme os bons costumes recomendavam.
A caminho do metrô,
passou por uma pequena barraca de flores, dessas propositalmente montadas para
datas comemorativas. Olhou rapidamente entre tantas opções e decidiu levar um
vaso de margaridas para a mãe e algumas rosas avulsas para distribuir entre as
outras mães que estivessem presentes no almoço. Ouvira dizer em algum lugar que
margaridas traziam alegria e achou uma ótima idéia presentear a mãe comprando-lhe
um pouco de alegria.
Pagou à dona da loja, colocou sua mochila nas
costas, olhou o relógio, segurou vaso e flores como pôde e acelerou o passo.
Estava definitivamente muito atrasado.
Em sua mente, vagavam muitos
pensamentos, disputando atenção com informações do meio por onde passava.
A noite passada, mais
uma entre tantas, vazia como outras tantas. Fumaça, laser led e luzes
reticentes na escuridão confusa, embriagante. Um beijo, dois, três. Vazios.
Vida e aborto em pequenos espaços temporais. Corpos vazios de alma. Sentimentos
voláteis. Vida vazia de sentido.
Faltava ainda um
quarteirão para chegar à estação de metrô. Pensava agora em uma boa desculpa
para dar pelo seu atraso. Todos certamente já estariam almoçando quando
chegasse. Deveria se fazer de vítima por não o terem esperado, enquanto
distribuísse as flores? Ou então, diria que o atraso fazia parte da surpresa?
Apenas distribuiria as flores e faria algum discurso, ficariam tão comovidos
que nem se importariam com o atraso. Apressou mais o passo. Atravessou a rua,
imerso em seus pensamentos, distraído. Um carro passou em alta velocidade.
Rosas e alegrias despedaçadas para todos os lados. Encontrou o que queria, não
sentiria mais solidão, não precisaria mais de desculpas. Por lá mesmo ficou.
Lucílio Fontes Moura
This work is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil License.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A diferença entre o real e o ilusório é que o real existe por si só e a ilusão necessita do real para existir. Comentem, afinal, o que seria da vida sem as ilusões.