quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Memórias de um timoneiro

"O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..." (Mario Quintana)
E com essa oportuna citação inicio esta nova postagem no blog. O que é a saudade senão a vontade de ter aquilo que outrora não nos faltava. A saudade sempre está a nos lembrar de que o tempo passa, e como passa. 

Mas não devemos tomar a saudade como um sentimento ruim, pelo contrário, sentir saudade significa que vivemos momentos bons, conhecemos pessoas inesquecíveis, fomos inesquecíveis, e isso não significa que ainda não vamos presenciar mais coisas boas. 

A saudade nos ensina a dar valor ao que é presente, porque o passado nada mais é que o presente que se foi, mas aquele não pode ser reescrito enquanto este a gente cria. E o futuro? O futuro também é consequência do que se faz no presente. Ter saudade é lembrar dessa dupla importância do presente, o que se faz agora determina onde estaremos e do que lembraremos. Pensem nisso, "a vida é muito para ser insignificante". 
  



Memórias de um timoneiro

Dentro de um cartão postal maravilhoso
Vejo-me desafiado por um gigante.
Como gritar mais alto que o infinito,
Quando tudo que se tem é o instante?

Todo remar é um desafio a si mesmo
Descer a raia é antes um exercício de coragem
Superação. A vida está bem diante de nós

Uma dúvida sempre me acompanhou
Como se conquista a eternidade?
E a lição sutil, silenciosa, quase submersa
A flutuar sobre a superfície das águas
Harmonia, equilíbrio e movimento
Alimentados por nosso sangue e suor

Em nós reside a essência desse esporte
Do timoneiro, a vontade de conquista
Do remador, força e garra inabalável
Do técnico, sabedoria e experiência

Cada um cumpre seu papel no barco
O timoneiro visualiza a meta, o objetivo
Mas sozinho não consegue seguir
Pois somente remadores sabem voar
De um modo tão sublime e inusitado
Portadores das asas que voam n’água
Que por sua vez precisam ser domadas
E para isso um técnico, um velho coroco
A aconselhar, a corrigir, implacável
Sem papas, sem medo, um louco

Todo dia é um ensaio rumo à perfeição
A descida na raia se assemelha a vida:
Uma infância breve e determinante;
Uma juventude de maturidade e concentração;
E um final firme, fugaz e fulminante

Todos buscam desta trajetória
Um sentimento quase único
Que é fruto de sacrifício
Conquista da vitória
E certeza da liberdade
É um misto de glória,
Delírio,
E eternidade

Lucílio Fontes Moura


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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Dica de leitura (2)



Título: Na pior em Paris e Londres
Autor: George Orwell
Número de páginas: 249
Editora: Companhia Das Letras
Para quem: para quem deseja compreender melhor as condições em que se encontram milhões de seres humanos, os esquecidos, para quem quer conhecer a pobreza e a miséria sem sair do conforto de sua casa.

"Na pior em Paris e Londres" não é das obras mais famosas de George Orwell como os clássicos "1984" e "Revolução dos Bichos", mas certamente há um motivo para isso, esta obra foi a primeira lançada pelo autor com seu pseudônimo George Orwell (seu  nome verdadeiro é Eric Arthur Blair). O livro de fato nem se compara com os clássicos do autor, mas ainda sim achei muito interessante a perspectiva original que ele apresenta para abordar um assunto que é no mínimo um tapa na cara da sociedade.
        Para escrever esse livro o autor sente na pele a experiência da pobreza o que nos dá uma imagem fiel do que passam os mendigos nas cidades grandes. Por volta de 1928, o autor, vive experiências de extrema pobreza em Paris e Londres, por onde passou fome, foi roubado, trabalhou em restaurantes sórdidos onde foi totalmente explorado, se alojou em albergues sujos com muito pouco dinheiro.
     Comprei o livro porque achei interessante conhecer esse lado, nós precisamos conhecer para entender o que se passa, compreender o próximo. Enfim, recomendo esta leitura para aqueles que perderam a sensibilidade e desumanizaram aquele ser que vive nas ruas e que nada mais é do que um semelhante, um ser humano como qualquer um de nós.
       
       "[...] quando você se aproxima da pobreza faz uma descoberta que supera algumas outras. Você descobre o tédio,e as complicações mesquinhas e os primórdios da fome, mas descobre também o grande aspecto redentor da pobreza: o fato de que ela aniquila o futuro.[...] Você fica entediado, mas não tem medo. Pensa vagamente: 'Em um ou dois dias estarei morrendo de fome - chocante não?' E então sua mente 
divaga por outros assuntos. Uma dieta de pão e margarina proporciona, em certa medida, seu próprio analgésico. 
E há outro sentimento de alívio, quase de prazer, de você saber que está, por fim, genuinamente na pior. Tantas vezes você falou sobre entrar pelo cano - e, bem, aqui está o cano, você entrou nele e é capaz de aguentar. Isso elimina um bocado de ansiedade." ( George Orwell em "Na pior em Paris e Londres")