domingo, 14 de outubro de 2012

Literatura brasileira


Começa hoje a série "Literatura brasileira", quadro em que pretendo apresentar grandes estilos e formas de escrita de autores brasileiros. E para inaugurar escolhi um autor nascido em Cantagalo (RJ), no dia 20 de janeiro de 1866. Que além de escritor, foi professor, engenheiro, sociólogo e repórter jornalístico, tendo se tornado famoso internacionalmente por sua obra-prima, “Os Sertões”, que retrata a Guerra de Canudos. O escritor a que me refiro é Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha.



Dono de um estilo considerado pré-modernista, Euclides da Cunha ficou conhecido por sua estética conservadora: parnasiana e naturalista, mas também renovadora: proximidade com a realidade brasileira e as tensões vividas pela sociedade da época.

Percebam a dramaticidade e refinamento de seu estilo:

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempeno, a estrutura corretíssima das organizações atléticas.
É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos. O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gingante e sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. Agrava-o a postura normalmente abatida, num manifestar de displicência que lhe dá um caráter de humildade deprimente. A pé, quando parado, recosta-se invariavelmente ao primeiro umbral ou parede que encontra; a cavalo, se sofreia o animal para trocar duas palavras com um conhecido, cai logo sobre um dos estribos, descansando sobre a espenda da sela. Caminhando, mesmo a passo rápido, não traça trajetória retilínea e firme. Avança celeremente, num bambolear característico, de que parecem ser o traço geométrico os meandros das trilhas sertanejas”.

"[...] é um cadáver claudicante. Foi ferido há dois meses pela explosão de um shrapnel quando se acolhia ao santuário. Uma bala atravessou-lhe o braço e a outra o ventre. E este ente assim vive, há dois meses, numa inanição lenta, com dois furos no ventre, num extravasamento constante dos intestinos."




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